Vítor E. Silva Souza
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Em outubro de 2023, um incidente na infraestrutura de TI do Departamento de Informática/UFES causou a perda de atualizações recentes feitas nos sites hospedados pelo departamento. Desta forma, estou recuperando das minhas anotações e republicando este resumo, caso seja do interesse de outras pessoas.
De 06 a 11 de agosto de 2023 participei do 43º Congresso da Sociedade Brasileira de Computação (CSBC 2023), em João Pessoa, PB.
Tenho o costume de escrever breves resumos das apresentações que assisti (de modo a me forçar a prestar atenção às apresentações e para tentar compartilhar o conhecimento com outros), vide 2022, 2019 e 2018 (rolou um hiato durante a pandemia).
O CSBC é composto por vários eventos que ocorrem em paralelo, portanto fui escolhendo aqueles que achei que me seriam mais proveitosos.
Flávio deu as boas-vindas, passando a palavra pra mim e pra Cláudia Motta, eleita para Diretoria de Educação da SBC (assume na quinta-feira) para as boas-vindas também. Cláudia aproveitou pra ressaltar a importância dos programas responderem a enquete sobre o uso ou não do POSCOMP.
Flávio então falou sobre o Fórum para quem está participando pela primeira vez e apresentou a agenda:
Flávio mencionou algumas das ações do Fórum no último ano: atuação em modelo híbrido (reuniões virtuais ao longo do ano), trabalho de forma integrada com o CA-CC/CAPES (propostas e articulações), criação e manutenção do grupo de WhatsApp, articulação pra indicação dos membros do CA-CC/CAPES, reunião online com o CA-CC/CAPES após a Avaliação Quadrienal e antes do prazo de recursos, consulta sobre o POSCOMP, reunião online com o novo CA-CC/CAPES sobre o planejamento futuro, consulta sobre o nome da área na CAPES, reunião online com o prof. Nabor Mendonça (UNIFOR) sobre a ferramenta QLattes, enfim a reunião presencial do Fórum no CSBC hoje.
Abriu então a palavra para o membros do Fórum discutirem quais os próximos passos para o Fórum e os desafios para a área da Computação. Levantou alguns pontos para dar a partida na discussão:
Jacques Branches (UEL): resgatou um pouco da história do Fórum, ressaltando a importância da articulação para que aconteçam mudanças desejadas. Falou também do POSCOMP, da importância da participação do Fórum na definição de como serão as provas no futuro.
Fabrizzio Soares (UFG): trouxe a questão da bolsa CAPES-DS agora poder acumular com outro vínculo empregatício, num contexto em que muitos estudantes fazem boa parte da pós de maneira remota. Como os programas vão lidar com essa questão? Qual será a política de direcionamento das bolsas? O POSCOMP poderia ter um papel nisso?
Marcelo Maia (UFU): falou do contexto da pandemia e do aquecimento do mercado e como isso impactou os programas, inclusive também o uso do POSCOMP, pois critérios de ingresso foram relaxados devido ao contexto.
Charles (UDESC): relatou a experiência do programa, colocando POSCOMP como opcional e critério para alocação de bolsas, o que funcionou bem até o aquecimento do mercado, que gerou sobra de bolsas. Fizeram uma proposta à FAPESC para que o PPG recebesse a verba e pudesse definir os valores das bolsas de forma estratégica. Discussão ainda em andamento e a decisão da CAPES vai interferir nisso.
Sheila de Almeida (UTFPR Ponta Grossa): falou da precariedade do bolsista (sem direitos trabalhistas) e da defasagem dos valores (mesmo com o recente aumento), sendo que boa parte da pesquisa no Brasil é feita no contexto da pós-graduação. Falou da “faca de dois gumes” que é a decisão da CAPES, pois ao mesmo tempo que atrai mais interessados para as bolsas, não garante que estes bolsistas conseguirão produzir, tendo outro vínculo empregatício. Acha interessante a proposta mencionada pelo Charles do programa definir os valores.
Ângelo (Estadual de Feira de Santana): trouxe o desafio de estabelecer os planos para a área de TI e para o sistema de pós-graduação nacionais. Precisamos de um diagnóstico mais claro (números) da queda do interesse e do contexto já mencionado pelos colegas. Uma questão com relação à decisão da CAPES é: como os programas serão cobrados em relação à conclusão de seus bolsistas, que agora terão a mesma dedicação dos não-bolsistas? Importante discutir sobre ingresso e conclusão na pós-graduação.
Carla (UFABC): mencionou uma grande queda no número de inscritos, mesmo estando na região metropolitana de São Paulo. Preocupada também com a cobrança de prazos para estes novos bolsistas. Falou também da importância de voltar a usar o POSCOMP.
Sebastião (UERN, Mossoró): falou do desafio de tirar um programa que esteja estagnado no nível 3. Difícil aumentar a produção (publicações e defesas) num contexto de falta de recursos. Parceria com outra instituição também não resolve aos olhos dos avaliadores.
Felipe Saraiva (UFPA): falou da importância do POSCOMP, que é usado como critério para alocação de bolsas, mas está preocupado com o novo modelo online. Acharia melhor cada instituição realizar a prova localmente. Sobre o mercado aquecido, também sofrem o impacto mas vê como algo positivo para a área e os programas precisam achar meios de se adequar. Parabenizou a iniciativa do WhatsApp, mas ressaltou da importância de usar a lista de e-mails também para manter o histórico das discussões para os novos membros.
Vládia Pinheiro (UNIFOR): falou que as universidades privadas já lidam com algumas destas questões que foram mencionadas hoje. Mencionou algumas estratégias usadas para mitigar as questões, como entrada primeiro como aluno especial, FAP local com bolsas diferenciadas, muito foco em projetos com empresas, integração de estudantes vindo de outras áreas (em especial Engenharias).
Emerson Paraíso (PUC-PR): relembrou que o Jacques fez no ano passado um levantamento de custos para novas modalidades para o POSCOMP e perguntou se teríamos a informação de quanto está custando a prova online este ano. Falou da importância de mais momentos de debate presencial, nos quais a troca de experiência é mais rica do que em eventos virtuais.
Davi Viana (UFMA): preocupação com estudantes que não possuem infraestrutura para realizar o POSCOMP online, estão pensando em alternativas (ex.: disponibilizar o laboratório da universidade no dia da prova). Preocupado com o caso de ter problemas com a Internet da universidade no horário da prova.
Daniela Claro (UFBA): compartilhou que houve uma grande procura (33%) de candidatos de outras áreas para a pós em Computação. Importante pensar em formas de agregar pessoas com este perfil aos cursos.
Tadeu (UNIRIO): preocupação do uso do POSCOMP exatamente no perfil citado pela Daniela, pessoas que vem de outras áreas, que são “excluídos” se POSCOMP for um critério obrigatório. Mencionou também o uso do turno noturno para acolher pessoas que trabalham durante o dia.
Jacques: em resposta ao Emerson, não possui informações de custos atualmente. Mencionou como era o acordo no passado (antes da Fundatec). Em resposta ao Davi, em caso de problema com a Internet, não há o que fazer, pois a prova é única.
Roberto (UFPR): ponderou que a SBC e o Fórum deveriam pensar numa mudança do POSCOMP para se adequar ao cenário que temos hoje. Talvez passar para um modelo mais formativo, como uma certificação e talvez um curso.
Itana Gimenez (Diretora de Educação): concordou com Roberto sobre a mudança do POSCOMP como um todo, do zero. Importante o Fórum assumir o POSCOMP, criar uma comissão para repensar o exame e levar as propostas à SBC.
André (UF Lavras): voltando à discussão das notas da CAPES, mencionou um levantamento que fez no passado que mostrava que a Computação era uma das áreas que mais mantinha programas com notas 3 e 4, porém lhe parece que mais recentemente essa situação mudou, mas precisa levantar os dados mais recentes. Lembrou também que a área de Computação já fez um trabalho comparando PPGs em Computação do Brasil com outros do exterior para definir junto à CAPES o que são programas nota 6 e 7. Uma metodologia similar poderia ser usada para definir as demais notas. Um GT no Fórum poderia ser formado para isso.
Fabrizzio: também precisamos definir o que é o programa nota 5, pois o discurso nas universidades e agências de fomento é que nota 3 é emergente e nota 4 é em consolidação, apenas os programas nota 5 estão consolidados, o que é diferente do discurso do CA-CC/CAPES atual. Mencionou também o problema do fomento da pós-graduação, especificamente a forma como o PROAP é distribuído. Também levantou o problema da tendência de todos os periódicos se tornarem open access, como pagar estes custos? Falou da importância do Fórum elaborar pautas para levar para o seminário de meio termo. Por fim, colocou também preocupações com relação a projetos feitos junto a empresas que exijam confidencialidade, como isso impacta nos programas.
Francisco “Fubica” Brasileiro (UFCG): é coordenador de curso de graduação e trouxe que os problemas de evasão em relação ao aquecimento do mercado também estão sendo sentidos na graduação. Falou que a definição do que é um programa 3 e 4 é importante para dar segurança aos programas em saber se vão se manter ou se vão cair de nota.
Jacques: acha difícil que hajam critérios precisos para cada nota, pois a avaliação é sempre comparativa. Falou também da importância dos programas divulgarem em seus sites suas linhas de pesquisa e que haja uma padronização das linhas entre os programas.
Marcelo: mencionou que a definição das características dos programas de cada nota também tem uma definição que vem do CTC da CAPES e uma conversa com o CA-CC é importante até para que eles intervenham junto ao CTC se for o caso.
Silvio (PUC-Minas): mencionou que a questão do acúmulo de bolsa foi tema de reunião da FAPEMIG recentemente, isso vai impactar as fundações. Trouxe a questão do ensino híbrido para a discussão (ainda não havia sido mencionada), perguntando se não seria o caso de ter um GT no Fórum para discutir este assunto, para que não chegue no caso de cada instituição criar seu próprio modelo.
Houve conversas durante a parte da manhã, mas adiou-se a decisão para a parte da tarde, para que houvesse mais articulação.
Ao final da programação do Fórum, foram eleitos Emerson Paraíso (PUC-PR) e Karin Komati (IFES, Campus Serra – ES) para coordenador e subcoordenadora, respectivamente, do Fórum.
Na parte da tarde, foi realizada a tradicional reunião do Fórum PG com o Comitê de Área da Ciência da Computação da CAPES, com a presença de dois de seus membros: Avelino Zorzo (coordenador) e Teresa Ludermir (coordenadora adjunta para programas acadêmicos).
Avelino começou dizendo que estão sendo rediscutidas uma série de questões (portarias, planos estratégicos, etc.), acumulando bastante trabalho. Fez um apresentação do CA-CC, cujos slides podem ser vistos neste link.
Em seguida, abriu-se para perguntas dos membros do Fórum:
Tema: Oportunidades e desafios da integração dos mundos físico e digital na educação: aprendizagem e geração do conhecimento
De segunda à quarta, das 18h às 20h, realizava-se o Seminário de Computação na Universidade (SECOMU). O primeiro deles tratou do tema “Oportunidades e desafios da integração dos mundos físico e digital na educação: aprendizagem e geração do conhecimento”, foi mediado pela profª. Itana Gimenes (UEM-PR e Diretora de Educação, SBC) e contou com os seguintes painelistas:
Começou com um histórico da política formação de professores da CAPES desde a criação do órgão em 1951. Apresentou as diretorias de Educação Básica e de Educação à Distância. Apresentou em mais detalhes o sistema da Universidade Aberta do Brasil (UAB), com mais de 900 polos em todo o Brasil. A UAB tem mais de 115 mil formados em cursos de licenciatura e mais de 71 mil atualmente matriculados. Também tem 79 mil formados e 19 mil matriculados em cursos de formação continuada (lato sensu). Falou também do PROEB, que congrega 13 programas de Mestrado Profissional para qualificação de professores (ProfMat, ProfBio, etc.), com um total de mais de 22 mil matriculados de 2020 a 2023. Apresentou também brevemente o programa Ciência é Dez. Finalizou com as ações futuras da sua diretoria: programa de doutorado profissional para professores, preenchimento de vagas nas editais PROEBs, Inova EaD, novo Edital da UAB, retomada dos cursos em parceria com as secretarias do MEC, interrompidas no governo anterior.
Começou mencionando que a sala de aula mudou pouco desde o início do milênio passado. Trouxe então alguns exemplos de novidades tecnológicas que impactaram a educação ao longo do tempo, atéo exemplo recente do ChatGPT. As tecnologias de um jeito ou de outro serão utilizadas, então temos que nos adequar. Questionou então: o quanto o trabalho do professor está realmente relacionado ao atendimento ao aluno? Neste contexto, se fala muito sobre presencial vs. EaD, porém mais interessante seria analisar os eixos de entrega (via instrutor / via tecnologia) e o conteúdo (receber / aplicar), compondo muitas variações de ensino híbrido. Trouxe então algumas experiências da UNIVESP (Universidade Virtual de São Paulo), da qual ele foi presidente durante um período. Uma questão relevante é que os alunos possuem ritmos diferentes em momentos distintos da aprendizagem. Possuem tempos de dedicação diferentes de acordo com seus contextos de vida. Importante entender e considerar o tempo dos alunos.
Abordou os impactos da IA na Educação. Do ponto de vista da oportunidade, ferramentas de IA podem auxiliar na personalização do ensino e melhoria da aprendizagem dos estudantes. Pode ajudar os professores a usar melhor seu tempo para se dedicar aos alunos. Pode também ajudar o sistema como um todo (relatórios, estratégias de gestão, etc.). Pôde-se também identificar desafios, principalmente éticos, neste contexto da IA para a Educação. Mas é preciso pensar também em Educação para a IA, abordando assim estes aspectos éticos. Isso se relaciona com o que a UNESCO chama de Cidadania Digital. Estamos preparados para isso? Como estamos trabalhando isso nos cursos de Computação, para que produzam, no futuro, uma IA ética? É preciso trabalhar no desenvolvimento de pensamento crítico dos estudantes ao longo da graduação. Como estamos trabalhando estas questões dentro de nossas instituições?
Abordou o movimento Maker, primeiramente diferenciando a fabricação tradicional (a partir de moldes físicos) e a fabricação digital de objetos, considerada uma importante revolução. Falou da criação dos FabLabs, hoje mais de 2 mil integrados em uma rede mundial, grande parte deles no contexto da educação (Educação Maker). Falou do sucesso que tem sido em Recife a integração do mundo físico com o digital por meio do movimento Maker, em todos os níveis de ensino. Traz a reflexão de como isso poderia ter impacto até nas cadeias de produção e distribuição, a partir do Design Distribuído, que enviara não produtos físicos feitos numa fábrica para todo o mundo mas os dados de uma fabricação digital para os diversos FabLabs em todo o mundo. Relatou o caso que ocorreu durante a pandemia da COVID-19, em que diversos produtos (válvulas, face shields, respiradores) foram sendo criados (designed) de forma distribuída e compartilhada para serem fabricados onde eram necessários. Finalizou mencionando iniciativas da CESAR School na aplicação de aprendizado baseado no fazer.
Participei do CSBC como Secretário Regional SBC no Espírito Santo, tendo algumas atividades específicas a esta posição.
Macedo relatou o que foi aprovado na reunião do conselho:
Em seguida relatou as ações da diretoria nos últimos anos. Mencionou que um relatório escrito será publicado em breve na SOL.
Passou a palavra para Cristiano, que fez um relato do trabalho com as Comissões Especiais.
Em seguida, Duduchi falou das Secretarias Regionais.
Na sequência, Viterbo falou sobre o GT do JEMS.
Duduchi deu as boas-vindas e primeiro passou a palavra para o Carlos Ferreira, Diretor de Competições Científicas:
Duduchi apresentou alguns dados das regionais:
Passou a palavra para Alírio, Diretor de Comunicação:
Desafios para 2022-2023 e resultados:
Discussão sobre participação dos SRs com os eventos na região:
Informes:
Sugestão: criar o e-mail sbc-sr-es@gmail.com
Passou a palavra para a Eunice, Diretora de SRs da chapa eleita, que falou um pouco do futuro da diretoria. Após fazer com a Diretoria da SBC o planejamento da Diretoria de SRs, vai começar a entrar em contato com cada SR para organizar o trabalho (por volta de setembro-outubro provavelmente). Conta com a compreensão de todos no momento de transição e com a colaboração para o trabalho no futuro.
Teresa e Avelino fizeram a mesma apresentação que já haviam feito ao Fórum PG.
Sessão de perguntas:
Tema: Computação para o Bem – Promoção, Iniciativas e Desafios
Painelistas: Juliana Saraiva (UFPB), Yuri Malheiros (UFPB) e Claudia Lage Rebello da Motta (UFRJ) – Mediação: Elloá B. Guedes (UEA)
Elloá iniciou a mediação trazendo o conceito de Computação para o Bem (Computing for the Good — C4G), que é o esforço para aproveitar a Computação para estudar e abordar problemas sociais urgentes. Existem 3 grandes frentes para promoção da C4G: educação; melhorar a tecnologia; e implantar soluções de C4G.
Em seguida, formou a mesa com os painelistas e iniciou com uma primeira pergunta para Juliana: em nosso país, há muitos elogios para algumas das nossas legislações (a exemplo da própria Constituição, Estatuto da Criança, do Idoso, etc.). Como está nossa legislação em termos de C4G? Juliana disse que não temos a melhor legislação para promover a C4G, porém temos sim legislações bem avançadas para subsidiar os trabalhos (a exemplo das já citadas, mas também por exemplo a LGPD, a Lei de Software, Lei de Crimes Cibernéticos, fora os que estão em discussão, como o Marco Legal da IA). Porém há também uma lentidão na aplicação das leis mais recentes. Além disso, estamos discutindo essas leis em nossos contextos de trabalho, quando ensinamos e/ou fazendo Computação? Deixou então uma provocação: a legislação existe, nós a conhecemos?
Na sequência Elloá fez um pergunta para Yuri: a popularidade da IA vem crescendo muito nos últimos tempos, mas também a discussão sobre o mal uso da mesma, como por exemplo os deep fakes. Mas parece que “baixamos a guarda” em termos de fornecer nossos dados e imagem para estas ferramentas de IA. Por que? E qual o papel da IA na C4G? Yuri disse que a IA muitas vezes é vista como a “Computação para o Mal” (um pouco influenciado por Hollywood por exemplo). Tem chamado muita atenção ultimamente, saindo na grande mídia, etc. É uma tecnologia poderosa e, como toda tecnologia poderosa, pode ser usada para o bem e para o mal. Não faz sentido pedir para que parem os avanços na IA por conta do receio dela ser usada para o mal. Precisamos, sim, falar de legislação, etc. Mas tem muita coisa boa que pode ser feita por meio da IA, a exemplo do seu uso para ajudar no diagnóstico de câncer e em última instância salvar vidas.
Elloá fez então pediu à Cláudia para falar um pouco sobre o legado dos 45 anos da SBC em sua atuação no desenvolvimento da Computação no Brasil, em especial em relação à educação e como a SBC se relaciona com a ideia de C4G? Cláudia falou das ações da SBC na educação, como os referenciais teóricos propostos nos últimos anos, a criação do WIT há 17 anos para tratar a questão das mulheres na tecnologia, a inclusão da Computação (pensamento computacional) na base nacional comum curricular, etc. Ressaltou que a SBC não é apenas a diretoria e o conselho, mas todos nós, que podemos levar as diversas bandeiras da comunidade em nossa atuação pessoal e profissional.
Itana complementou com outras ações da SBC que podem ser consideradas no contexto de C4G: a criação e manutenção da SOL, o manifesto pelo meio-ambiente, a atuação da SBC com a questão das urnas eletrônicas e a questão da privatização do SERPRO e DATAPREV. O CSBC é uma oportunidade para que as pessoas venham não só numa posição individualista, para apenas apresentar seu trabalho, mas numa posição coletiva para contribuir com a sociedade.
Elloá fez mais uma pergunta ao Yuri: as soluções de IA que vem se popularizando usam modelos altamente complexos, geralmente tipo “caixa preta”. Há pesquisas no sentido de auxiliar na explicação dos resultados produzidos por estes algoritmos? Isso seria importante para os casos, por exemplo, em que tais resultados sejam enviesados contra grupos minorizados. Como podemos fazer para produzir algoritmos que não sejam enviesados. Yuri respondeu que realmente é um desafio, mas não significa que é impossível. É um tema de pesquisa cada vez mais presente. No caso das soluções enviesadas, hoje culpa-se muito os dados, dizendo que eles representam a sociedade, que é enviesada. Porém existem estudos para tentar remover ou amenizar os vieses. Uma ação que vem sendo feita é a identificação de pontos de viés e geração sintética de dados para compensar os vieses.
Em seguida Elloá perguntou à Cláudia sobre os próximos passos e iniciativas da SBC para trabalhar a participação das mulheres na Computação, algo que já vem sendo trabalhado pela SBC há alguns anos (a exemplo do próprio WIT). Cláudia disse que de fato essa é uma preocupação da SBC há um tempo, mas que ainda há muitos desafios, a exemplo da participação das pessoas negras também. Mencionou algumas experiências e iniciativas relacionadas a esta questão.
Por fim, Elloá perguntou à Juliana sobre como educar nossos estudantes para as questões de C4G conversadas neste painel. Juliana falou da responsabilidade de cada um de levar as questões que foram faladas neste painel para o nosso dia a dia profissional. A SBC propicia esta discussão para que possamos multiplicar esta semente. Outra coisa a se pensar é que a Computação muitas vezes é ciência meio para outras áreas das quais não somos especialistas, o que apresenta um desafio a mais na atuação ética. Por isso, este painel é premissa para todos envolvidos com Computação. A questão da explicabilidade da IA é algo que devemos ter muita atenção, pois é algo que vai gerar muito processo judicial, da mesma forma que o Direito do Consumidor inicialmente não era levado a sério e hoje gera inúmeros processos. E precisamos levar para casa a tarefa de explicar em linguagem natural para leigos. Para educar nossos estudantes, é preciso incluir nas ementas de todas as disciplinas conteúdos relacionados à C4G, de modo que a disciplina específica de Ética seja apenas para consolidar tudo que foi visto de forma distribuída.
Sessão de perguntas:
O presidente da SBC, Raimundo Macêdo, iniciou a assembleia fazendo um relato das diversas ações de destaque da SBC durante sua gestão 2019-2023.
Passou a palavra para Renata Galante, Diretora Administrativa, que fez um relato geral das diversas diretorias da SBC nesta gestão. O relatório completo encontra-se na área de Documentos do site da SBC, na categoria Institucional > Relatórios Anuais (https://sbc.org.br/documentos-da-sbc/category/196-relatorios-anuais).
Em seguida, Carlos Ferraz, Diretor Financeiro, e Fernanda Jorge, Gerente Executiva, apresentaram o relatório financeiro da gestão. O relatório está disponível na seção “SBC Transparente” (https://sbc.org.br/23-institucional/2117-sbc-transparente) do site da SBC e a sede está disponível para o caso de dúvidas.
Na sequência, o coordenador do CSBC 2024 em Brasília, Marcelo Marotta (UnB), apresentou informações gerais sobre o evento, que será realizado de 21 a 26 de julho. Depois, os coordenadores do CSBC 2023, Francisco Daladier e Paulo Ditarso (IFPB), fizeram o relato do evento atual. Depois foi feita a entrega dos prêmios do Selo SBC.
Por fim, foi realizada a posse da nova Diretoria da SBC, eleita para o mandato 2023-2025. Também foram empossados os novos conselheiros eleitos.
Tayana começou se apresentando, apresentando seu currículo e números de publicações e orientações, culminando no TCSE Distinguished Education Award que recebeu neste ano. Destacou que é a primeira pessoa da América Latina, o que significa que estes órgãos internacionais já estão começando a olhar para nós. A ideia de apresentar tudo isso é para mostrar que é possível chegar lá.
Relatou a história da sua formação, ressaltando que ao voltar do doutorado para a UFAM, fora as dificuldades pessoais, era a única pessoa de Engenharia de Software e IHC, com o desafio de construir um grupo de pesquisa do zero e atrair bons estudantes. Argumentou que para atrair bons estudantes é preciso ser um bom professor.
Começou então abordando este primeiro perfil, a professora. Como julgar se suas aulas estão realmente boas? Sua métrica: alunos que se empolgam pela área/disciplina. Claro que há turmas que gostam mais de uma área ou outra, mas se ninguém se empolga há alguns anos, é preciso refletir. Uma métrica derivada é: como os estudantes resolveram fazer mestrado/doutorado? A hipótese é que a grande maioria é atraída por uma disciplina de graduação que deixou uma boa marca (nota pessoal: me fez lembrar das aulas de Ricardo Falbo). Tayana propõe, então, a reflexão: que marcas as suas disciplinas deixam?
Do email de Mauro Oliveira, ganhador do prêmio LF da SBC (08/08/2023): “Aprendi com LF que podemos, sim, despertar no aluno o homem de bem que ele é, contagiá-lo com seu poder de mudar o mundo, de se importar com o outro…” — Isso começa com você se importando (com aqueles que valem a pena, claro).
Na sequência, passou para o segundo perfil, a orientadora. O que faz uma boa pessoa orientadora? Há um delicado equilíbrio entre apenas “mandar fazer” vs. fazer pelo orientado. O caminho para ser um orientador melhor envolve:
Terceiro perfil, a pesquisadora. Como aprender a ser uma melhor pessoa pesquisadora? Tayana argumenta que revisar trabalhos dos outros ajuda a “treinar seu cérebro” para escrever melhores artigos. Também contribui ir aos (bons) eventos, encontrar seus mentores, conhecer pessoas e iniciar colaborações. E lembre-se: resiliência (importante para todos os casos, mas vital para o pesquisador), pois haverá muita crítica e rejeição também.
Último perfil, a pessoa. Tayana resume em uma frase: “A vida é grande demais para caber no Lattes”.
Ressaltou, por fim, que todos as suas conquistas, em especial o prêmio, foram conquistas de uma pessoa brasileira, uma mulher, uma pessoa do Norte. Se a Filha do Norte consegue, você também.
Alinne Souza (UTFPR-Dois Vizinhos) apresentou “PMBOK Game II: Um Jogo Educacional para Apoiar o Ensino de Gestão de Projetos de Software”. A motivação para o trabalho era a falta de motivação dos estudantes na disciplina de Gestão de Projetos, considerada cansativa. Propõem então o PMBOK Game II, uma evolução de um jogo proposto anteriormente. O manual do jogo está disponível em http://www.qrfy.com/-zmdQZYCuB. Foi realizado um Estudo de Caso exploratório para avaliar a qualidade do jogo em relação à motivação, experiência do jogador e percepção da aprendizagem, com bons resultados.
Ariany Maia (UFC) apresentou “Adotando aulas invertidas e gamificação no ensino de Qualidade de Processos de Software com foco no MPS.BR”. A motivação é similar ao trabalho anterior, partindo da observação de que os métodos clássicos de ensino não estão alcançando bons resultados. O trabalho usa então conceitos de Sala de Aula Invertida e Gamificação, na plataforma Classcraft (jogo de interpretação de papeis online e gratuito) para o ensino de MPS.BR (qualidade de software). A proposta foi aplicada numa turma de 40 estudantes na UFC. A avaliação foi feita por meio de coleta de feedback por formulário online e uma dinâmica de post-its, com avaliação de pontos positivos e negativos. Mais de 70% dos respondentes indicaram preferir o método de Sala de Aula Invertida e todos indicaram uma melhoria na motivação para a disciplina por conta do método aplicado.
Fabiane Benitti (UFSC) apresentou “Mike, help me!: um jogo para apoio ao processo de ensino-aprendizagem de técnica de especificação de requisitos de software”. O trabalho é motivado pela demanda de bons profissionais de tecnologia e a percepção de que a Engenharia de Software é ensinada muitas vezes de forma superficial e distante das necessidades do mercado. Em particular, não há propostas na literatura para auxiliar no ensino de histórias de usuário, método mais popular para Engenharia de Requisitos nas empresas. Propõe-se, então, o jogo online e multijogador chamado “Mike, help me!” (homenagem a Mike Cohen), construído para dispositivos móveis e com o objetivo de trabalhar conceitos de história de usuário (sua estrutura e critérios de qualidade). O jogo foi experimentado numa disciplina da UFSC com 22 participantes, com bons resultados: o jogo auxiliou na compreensão da estrutura de uma história de usuário. O código-fonte está disponível em https://github.com/joaovenancio/mike-help-me.
Nilson Lazarin (UFF, CEFET-RJ) apresentou “Towards a Toolkit for Teaching AI Supported by Robotic-agents: Proposal and first impressions”. Os autores advogam o uso do paradigma BDI (Behavior, Desire, Intention) para o ensino do pensamento computacional. O trabalho então propõe um método e ferramentas (SO, rede, IDE, etc.) para o desenvolvimento de agentes inteligentes (BDI) para ensino de IA. Informações do projeto podem ser vistas em https://github.com/chon-group/bot2WD e a sua aplicação prática tem baixo custo, para facilitar sua adesão. A proposta foi aplicada na prática em 3 sessões com perfis diferentes (de estudantes a especialistas), com bons resultados.
Roberto dividiu sua fala em 4 partes, a primeira sendo experiências observadas e vividas. Começou refletindo como as pessoas aprendem a partir de observação e lembrança de como as crianças aprendem. Por mais desafiador que seja ensinar e aprender, estamos sempre fazendo isso de uma forma ou outra. Concluiu perguntando: o que isso tem a ver com uma disciplina em Introdução à Computação?
Passando para a segunda parte, a prática, falou da reforma curricular feita na UFPR em 2017 no contexto dos cursos de Ciência da Computação e Informática Biomédica. A disciplina de introdução foi então criada para exercitar algumas habilidades que acharam essenciais para o restante do curso e para a vida profissional dos estudantes: solução de problemas, contexto situado e comportamento profissional. O objetivo era promover o pensamento crítico responsável. O intuito era também incomodar as pessoas para que se mexessem.
Na pandemia o digital ficou mais explícito a partir do uso das plataformas para o ensino remoto. Neste momento se perde um pouco a noção do físico (onde cada estudante se encontrava participando da aula) e o social. No retorno ao ensino presencial, refletiram: como aproveitar melhor os mundos físico e digital, os aspectos individual e social? Criaram então um universo (cenário distópico), a Liga do Pensamento Computacional, e separaram o curso em 13 fases, que iam se revelando a cada semana. A cada fase se trabalhavam os conteúdos, se revelava mais algum aspecto da história do cenário distópico e se faziam provocações éticas para discussão.
Relatos destas práticas podem ser lidos em artigos do Roberto no WEI 2021 e 2023 e também no EduComp 2023.
Seguindo para a parte 3, experiências exemplificadas, detalhou uma das fases da Liga do Pensamento Computacional. Técnicas de gamificação são utilizadas para instigar a curiosidade sobre o conteúdo e o trabalho colaborativo.
Na parte final da palestra, experiências como reflexões, Roberto falou um pouco de como a avaliação é feita na disciplina: a cada atividade, os estudantes reivindicam XP e recebem feedback. Ao final, ao encontrar o “chefão” do jogo, descobrem que são eles mesmos e que precisam olhar para sua própria trajetória e fazer uma autoavaliação, reivindicando sua nota na disciplina.
Refletiu, então, sobre como conectar os mundos físico e digital e os aspectos individuais e sociais, nestes dois eixos. Da mesma forma, há dois eixos das direções: experiência <-> significativa, gamificação tematizada <-> sala de aula estendida. O cenário detalhado na parte 3 demonstra isso.
Concluiu a palestra com algumas posições: ensinar/aprender é um desafio, mas fazemos isso constantemente; é preciso avaliar o papel da sala de aula, física, presencial neste novo contexto; se você como docente não está empolgado com a construção de sua disciplina, dificilmente os estudantes estarão.
Sessão de perguntas: