Vítor E. Silva Souza

Contato:
vitor.souza@ufes.br
+55 (27) 4009-2196

Curriculum Vitae (CNPq Lattes) Google Scholar

De 31 de julho a 05 de agosto de 2022 participei do 42º Congresso da Sociedade Brasileira de Computação (CSBC 2022), em Niteroi, RJ. 

Após 2 anos de evento online, em que fui incapaz de continuar com meu costume (vide 2019 e 2018) de escrever breves resumos das apresentações que assisti (de modo a me forçar a prestar atenção às apresentações e para tentar compartilhar o conhecimento com outros), retomei esta prática e compartilho aqui as minhas anotações.

O CSBC é composto por vários eventos que ocorrem em paralelo, portanto fui escolhendo aqueles que achei que me seriam mais proveitosos.

Segunda-feira 01/08/2022:

Reunião do Fórum de Coordenadores de Pós-Graduação (Fórum CPG)

Nas duas últimas edições do CSBC atuei como coordenador do Fórum CPG, tendo passado o bastão para o prof. Flávio Silva (UFU) na última edição do evento e permanecendo como coordenador suplente.

Atualização: o material disponibilizado pelos painelistas e demais palestrantes do evento foram reunidos pelo prof. Flávio, coordenador do Fórum, em https://www.facom.ufu.br/~flavio/sbc-forum-cpg.html.

Painel: Pós-graduação brasileira em perspectivas: cenários do presente incertezas para o futuro — Os desafios da área de Computação frente ao novo Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG)

O Fórum CPG começou às 9:00 com o prof. Flávio apresentando rapidamente os objetivos e a composição do Fórum CPG e a agenda do dia. Às 9:10 passou-se ao painel “Pós-graduação brasileira em perspectivas: cenários do presente incertezas para o futuro — Os desafios da área de Computação frente ao novo Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG)”, que contou com a participação do Prof. Carlos Henrique de Carvalho (pró-reitor de pesquisa da UFU); Prof. Paulo Roberto Freire Cunha (UFPE, coordenador do CA-CC/CAPES); Prof. Jorge Luis Nicolas Audy (PUCRS, membro da comissão do novo PNPG) e Profa. Lúcia Drummond (UFF).

Paulo Cunha falou das atividades dos representantes de área da CAPES, como avaliação de novos cursos, acompanhamento anual (Sucupira), acompanhamento de meio-termo, preparação de documentos, visitas a programas, reuniões com a comunidade, etc.  Detalhou um pouco do processo da avaliação quadrienal mais recente, atualmente em discussão no CTC/CAPES para aprovação, ressaltando o foco em aspectos qualitativos, o Qualis Eventos, a mudança no Qualis periódico para unificá-lo e a produção técnica/tecnológica.

Sobre o futuro, ressaltou a mudança para a avaliação multidimensional (formação, pesquisa, inovação e transferência de conhecimento, impacto na sociedade, internacionalização), bem como discussões sobre período de avaliação (se será mantido como 4 anos), redução do número de áreas, importância do planejamento institucional, possível extinção do Qualis, mais estabilidade para o processo avaliativo (um dos resultados da ação do MP-RJ na justiça), definição de critérios mais claros e estáveis para as notas 3, 4, 5, 6, 7.

Lucia Drummond apresentou primeiro os números da UFF de 2021, com 87 programas, 132 cursos e 11.682 alunos de pós-graduação. Registraram um aumento do número de alunos de 2019 para 2021, apesar da pandemia e redução de bolsas. Mostrou estatísticas dos cursos por modalidade/nível, por área, etc. Mencionou também a situação das bolsas (queda) e da participação da instituição no CAPES PRINT.

Em seguida, focou no programa de Computação da UFF, conceito 6, ressaltando que a maioria dos estudantes faz pós-graduação sem bolsa. Apresentou alguns dados dos egressos (aumento da ida pro exterior, diminuição dos egressos trabalhando em universidades, aumento no serviço público e iniciativa privada), fomentando uma discussão com algumas perguntas como, por exemplo: efeito pandemia? Falta interesse em ficar na universidade? Como atrair e manter aluno com boa dedicação à pós-graduação no Brasil?

Como possíveis respostas, traçou algumas ideias: oferecer experiência internacional, com co-tutela? Reforçar a cultura de que alunos com melhores formações conseguem as melhores posições (inclusive na indústria)? Dar oportunidades de internacionalização “em casa” para os que não podem sair do país? Projetos das agências de fomento com empresas? Projetos de cooperação interinstitucional? Bolsas com melhores valores!!

Concluiu com uma questão: como fazer o país se tornar uma potência em computação, promovendo o desenvolvimento das nossas pós-graduações, tendo como exemplo casos como o IMPA, referência mundial na área da matemática?

Jorge Audy focou na questão do PNPG (acompanhamento do PNPG anterior 2011-2020, criação do novo 2021-2030). Começou ressaltando os problemas do fomento à ciência e tecnologia no Brasil (desafios com tantos cortes), um contexto muito difícil para a pós-graduação.

Falou então do vácuo do PNPG, pois o PNPG 2021-2030 deve ficar pronto só em 2023 (a comissão de criação do mesmo foi recém nomeada). Passou rapidamente pelo PNPG atual, que está em fase de relatório final. Chega-se na conclusão de que o modelo avaliativo estabelecido (ponto central do PNPG) foi o que fez a pós-graduação avançar até onde está, porém se esgotou e precisa de um aprimoramento.

Mencionou então algumas propostas de aprimoramento já aprovadas: autoavaliação institucional da pós-graduação; impacto (no desenvolvimento econômico e social, regional e nacional); modelo único de avaliação (multidimensional); produções indicadas (mais relevantes); relevância social; acompanhamento de egressos (formação de RHs qualificados); equilíbrio entre indicadores quantitativos e qualitativos; mudanças no Qualis; internacionalização; inovação.

Chegando então no modelo multidimensional (já citado na fala anterior). A ideia é se adequar às mudanças na pós-graduação, preocupar-se com os resultados e não com o processo, ter sensibilidade às diferenças de propósitos e simplificar o processo avaliativo. 

Passou então para recomendações para o avanço da pós: uma maior autonomia dos PPGs e instituições na gestão dos recursos, para que cada uma possa atuar em suas questões locais, aproximação com a graduação e com as demandas da sociedade, romper com o modelo sequencial de Mestrado e Doutorado, reconhecer a diversidade do sistema como um aspecto positivo, ter o processo de avaliação institucional como base do processo avaliativo, caminhar para um modelo educacional híbrido (presencial e remoto), diversificar e flexibilizar o financiamento.

Finalizou sua fala mencionando algunns desafios: uma reflexão crítica sobre o cenário atual do Sistema Nacional de Pós-Graduação (SNPG) (bolsas, financiamento, novas fontes); articulação com os demais atores relevantes (FAPs, CNPq, FINEP, …); foco em resultados, mas que em processos; contínuo desde a pesquisa básica até a pesquisa aplicada (observando os 17 Objetivos para Desenvolvimento Sustentável da ONU); novas dimensões de avaliação (para além da formação, pesquisa e internacionalização — inovação e ecossistemas de inovação, impacto na sociedade e relevância social); participação nas propostas do novo PNPG.

Carlos Henrique de Carvalho continuou da fala do Audy sobre o relatório do PNPG, do ponto de vista do FORPROP (Fórum Nacional de Pró-Reitores de Pesquisa e Pós-Graduação). Falou de todo o processo de composição das comissões, que começaram (no 2o semestre 2020) a elaborar um documento a partir do relatório anterior do PNPG, dos problemas que as diversas entidades que participaram das comissões tiveram no processo. Com a instabilidade na direção da CAPES, o processo foi sendo conduzido pelas demais instituições. Já ouviu da diretoria da CAPES que é um relatório paralelo, mas não é verdade, ele subsidia o relatório que tem que ser produzido pela CAPES.

Ressaltou que o ponto essencial para o novo PNPG é a avaliação multidimensional, mas ainda não se tem clareza do que ela é. Ressaltou a fala do Audy que a Computação avançou muito de 1976 até hoje graças aos esforços do SNPG, mas algumas questões se tornaram anacrônicas.

O relatório mencionado (documento de 200 páginas) está na página do FORPROP. Aponta algumas coisas que são preocupantes. Destacou: questão do currículo, um pouco engessado (curricularizamos demais, cadê a autonomia universitária?); maior autonomia também para tratar das assimetrias, da avaliação; dicotomia entre Mestrado Profissional e Mestrado Acadêmico; financiamento (novamente, maior autonomia para as pró-reitorias se planejarem estrategicamente com o recurso); sombreamento de programas de pós-graduação dentro da mesma instituição (vários PPGs de áreas correlatas dentro de uma mesma unidade acadêmica); maior qualificação da pós-graduação, discutindo as questões sem vaidade.

Duas frases que destaco em sua fala foram: “Não vejo como implementar o processo multidimensional agora, precisamos de um processo de transição.” e “Está na hora de se escrever um novo parecer da pós-graduação, considerando a realidade atual.” 

Concluiu dizendo que a comissão do novo PNPG tem que escrever um relatório, baseado no relatório que o FORPROP produziu, como subsídio. E então pavimentar o terreno para uma transição para a avaliação multidimensional.

Futuro do POSCOMP

Às 11:00, passou-se para uma apresentação do prof. Jacques Duílio Brancher (UEL) sobre o  futuro do POSCOMP, o Exame Nacional para Ingresso na Pós-Graduação em Computação.

Antes do Jacques, Flávio passou a palavra pra a profa. Itana Gimenes, Diretora de Educação. Falou da história do POSCOMP, que foi criado pelo Fórum e veio sendo gerido sem uma institucionalização clara, que é necessária agora. Falou também dos problemas atuais na demanda pela prova, que está com apenas 354 inscritos (até o momento) este ano. Muitos programas mudaram suas formas de seleção nos últimos anos. Qual o papel do POSCOMP na pós-graduação? E a ideia de transformar o POSCOMP em uma certificação? Essa definição deve ser breve, por conta da burocracia envolvida na organização da prova.

Jacques então resgatou o seu histórico de participação no exame, com a COPS/UEL de 2010 a 2014, UFG em 2015 (por conta de uma greve na COPS), FUNDATEC/UFRGS de 2016 a 2019 (diretoria da SBC terceiriza a aplicação), suspensão da prova em 2020 e 2021. Em 2022 voltou a prova, mas como já foi falado, apenas 354 inscritos atualmente, sendo que no passado neste momento do ano já havia mais de 3.000 inscritos.

Falou em seguida das ações desenvolvidas para o POSCOMP ao longo dos anos: montagem da estrutura da prova, documento descritivo da prova, sugestões e análise para a prova, questionário socioeconômico, chamada para novas sedes, pesquisa sobre a relevância dos conteúdos da prova, análise das ementas, propostas de mudança (que por questões de custo não foram a frente), levantamento das linhas de pesquisa dos programas, estudo para transformação em prova online (também não foi a frente), revisão e seleção dos itens da prova (em torno de 1,5 mil).

Apresentou alguns números do exame (homologados, sedes, balanço financeiro) com algumas observações sobre estes dados (aumento da demanda na área de TI, redução e valores das bolsas de pós, desgaste do modelo da prova, etc.) e da situação atual da prova (que exige atenção o ano inteiro).

Passou então para propostas de solução: alterar a forma de aplicação, tornando a prova disponível ao longo de todo o ano para que instituições parceiras (as próprias universidades) possam aplicar a prova em qualquer momento do ano. Formaria-se um banco de questões e seria usada uma plataforma online que permitisse geração das provas dinamicamente. Isso reduziria o custo da prova e manteria a continuidade desta avaliação, que vem sendo feita desde 2002. Detalhou a proposta nas atividades de elaboração do conteúdo da prova, gestão do banco de dados, criação da prova online, migração das provas para o novo sistema. 

Pediu uma chancela do Fórum CPG para levar as novas ideias para a SBC. Por conta do pouco tempo infelizmente o Fórum não teve como debater e fechar a questão, o que ficará para ser feito ao longo das próximas semanas. Porém houve manifestações favoráveis à manutenção do POSCOMP por parte de alguns coordenadores.

Reunião com CA-CC/CAPES

Após o almoço, às 14:00, houve a tradicional reunião do Fórum com os Coordenadores de Área da Ciência da Computação (CA-CC) da CAPES. Participaram os profs. Paulo Roberto Freire Cunha (UFPE) e Avelino Francsico Zorzo (PUCRS). Atrasei um pouco por conta dos atrasos ocorridos pela manhã e do restaurante escolhido para o almoço, porém consegui registrar bastante coisa.

Paulo começou com um retorno sobre as ações planejadas (prometidas) pelo CA-CC no início da sua atuação, o que foi feito, o que foi parcialmente feito e o que não foi feito (vide slides). Em seguida, apresentou gráficos a partir dos dados da avaliação quadrienal (também vide slides), mas ainda sem dados do resultado da avaliação, que estão em aprovação no CTC.

Avelino fez reflexões sobre a situação atual e futura da área. Agradeceu a colaboração do Fórum, da Diretoria de Educação e da SBC, que permitiu fazer este trabalho colaborativo. Olhando para o trabalho realizado, destacou:

  • Procedimentos diferentes: trabalho em 5 comissões ao longo de um período mais longo, muitas reuniões remotas, permitiu olhar para mais indicadores e aspectos qualitativos;
  • Obstáculos: pandemia (reflexos ainda serão muito vistos na quadrienal em andamento), ação do MPF (muita pressão em cima das áreas), mudanças de presidência da CAPES;
  • Mudança na ficha de avaliação, compartilhada com a comunidade e tentando manter os indicadores para não ter tanta mudança em relação à quadrienal anterior;
  • Forma de relato dos avaliadores similares à feita na quadrienal anterior: dois avaliadores por programa, faziam um relato, discutia-se para chegar a um consenso da nota;
  • Avaliação diferente, com caráter pedagógico, educativo e formativo, muito cuidado principalmente com redução de nota;
  • Ampliou-se o uso dos recursos PPJ (Pesquisador Permanente Júnior) e PPS (Sênior), mas muitos programas não entenderam como funciona e registraram incorretamente;
  • Foco maior nos aspectos qualitativos, em todas as áreas. Na Computação, considerou-se: casos de sucesso, 4N produções intelectuais, produções técnicas, egressos, etc.;
  • Transparência: todos os gráficos serão divulgados com os nomes dos programas;
  • Qualis Eventos agora é oficial: na Computação, uso do H5 Google e colaboração com as CEs da SBC;
  • Novo Qualis Periódico, com metodologia unificada, classificação feita pelas áreas mães (667 na Computação);
  • Considerou-se produtos técnico-tecnológicos em todas as áreas: na Computação, apoio do Fórum na seleção dos itens a serem considerados.

Reflexões para o futuro:

  • Mudança do nome da área: de “Ciência da Computação” para “Computação”, representando melhor os outros cursos da área;
  • Sugestão do comitê avaliador pra estabelecer um conjunto de critérios mínimos para notas 3 e 4. Programas nota 3 tem que querer melhorar. Programas nota 4 podem permanecer com esta nota se quiserem, pois já estão fazendo um trabalho bom;
  • Para programas 5, 6 e 7, são necessários critérios mais qualitativos, não deveriam contar apenas com o número mínimo de docentes e a estabilidade do programa é fundamental;
  • Identificar o que de fato é relevante para a avaliação e simplificar o trabalho de todos;
  • Impactos da pandemia no próximo quadriênio (como já falado);
  • Impactos da restrição de investimentos;
  • Fortalecer e induzir a relação Academia-Indústria.

Teceu então as seguintes conclusões: a área está consolidada, com uma relevância muito importante na CAPES, tendo alcançado um patamar estável. Resultado da ação do MPF, a Ficha de Avaliação vai se manter a mesma para uma maior estabilidade do sistema. Novas fichas terão que ser propostas antes do início da quadrienal. A avaliação está muito complexa, precisa ser simplificada. Muitas incertezas: próximo PNPG ainda em discussão, não se sabe como vai ser a avaliação multidimensional, impacto de pandemia e cortes de verbas, etc. Concluiu sugerindo que trabalhemos como Fórum, façamos sugestões e briguemos pelas mudanças que achamos que são necessárias.

Em seguida, abriu-se para perguntas:

  • P: os programas profissionais geralmente tem mais dificuldade com dados quantitativos, percebeu-se melhora com a avaliação qualitativa?
    R: Estamos entendendo melhor o que são os programas profissionais (havia um preconceito de ser um “mestrado mais fácil”) e houve sim melhora, mas é um trabalho em construção. Paulo acha que os mestrados ficarão cada vez mais profissionais e a produção acadêmica se concentrará nos doutorados. Avelino acha que as produções científicas e tecnológicas deveriam ser valorizadas igualmente e daí não precisaria ter a diferenciação de profissional e acadêmico;
  • P: quanto aos critérios mínimos para programas 3 (inicial), 4 (em consolidação), 5 (consolidado)… qual a perspectiva disso realmente ser produzido para ajudar os programas?
    R: é preciso fazer uma correção: 3 é em consolidação, 4 é consolidado, 5 é excelência nacional. Para notas 3 e 4 é bem factível, para os programas de excelência é mais difícil;
  • P: quanto ao Qualis Novo, qual a perspectiva de ter um documento oficial da CAPES para que seja usado junto às universidades?
    R: já existe um documento com a nova metodologia Qualis, mas as universidades se fixam na lista de periódicos/eventos, que é uma foto do passado. Avelino acha que nem deveria ser publicada (publicaria-se apenas como cada artigo foi avaliado). O próximo PNPG sugere eliminar o Qualis;
  • P: o que o CA-CC acha sobre doutorados multicêntricos e aulas híbridas?
    R: isso toca na questão da assimetria. Soluções associativas são bem-vindas quando possuem um papel e uma motivação bem definidos. Há bastante espaço pra isso e fortalece a multidisciplinaridade. O importante é o produto final: estudantes bem formados. Para as aulas híbridas, está em discussão na CAPES, estamos aprendendo. É preciso acompanhar e relatar bem os resultados;
  • P: sobre os impactos da pandemia na próxima avaliação, muito impacto na procura e muitos estudantes com problemas e atrasando a conclusão. Quais as sugestões?
    R: tempo de formação não foi considerado nessa avaliação e a CAPES não estabelece limites (são regimentos internos das universidades). Quanto à baixa procura, é um desafio para o próximo CA-CC de como levar isso em consideração na avaliação. O Fórum deve se posicionar;
  • P: sobre cursos híbridos, há uma portaria da CAPES para EaD, o CA-CC tem um ponto de vista em relação a isto?
    R: o CA-CC atual não vai ter como fazer essa discussão, o Fórum deveria discutir e levar ao novo CA-CC;
  • P: na avaliação houve planilhas (anexos) e destaques (Sucupira), vai se manter essa redundância?
    R: os anexos foram propostos antes das mudanças na Sucupira, por isso a redundância. Também depende do próximo CA-CC, mas deve se manter a informação, pois foi importante na avaliação qualitativa;
  • P: qual será o período de avaliação do próximo quadriênio?
    R: a DAV (Diretoria de Avaliação da CAPES) planeja tudo direitinho, mas o calendário teve que ser mudado muitas vezes. Não há essa resposta ainda. A gestão atual não tem plano. Há uma proposta de considerar 2021 como ano de transição e o quadriênio ser 2022-2025, mas não há definição de nada.

Discussão Interna do Fórum

Às 15:30, no final da programação, separou-se um espaço para discussão interna do Fórum CPG. Devido ao curto tempo, tratou-se apenas da eleição para coordenação do Fórum.

Flávio e eu nos propusemos ficar por mais um ano e abrimos para outras candidaturas, porém não houve. Mencionou-se a importância de se manter a memória do Fórum neste momento por conta da troca do CA-CC/CAPES em breve. Por aclamação, então, foi aprovado pelo Fórum a continuidade da coordenação atual para o próximo ano.

Painel SECOMU: Representatividade e Ética no Desenvolvimento de Algoritmos: Impacto na Sociedade

Às 17h (de segunda à quarta), realizava-se o Seminário de Computação na Universidade (SECOMU). O primeiro deles tratou do tema “Representatividade e Ética no Desenvolvimento de Algoritmos: Impacto na Sociedade”, foi mediado pelo prof. Adenilso Simao (ICMC/USP) e contou com os painelistas Ana Carolina da Hora (Nina da Hora), prof. André Ferreira de Carvalho (ICMC/USP), profa. Dora Kaufman (PUC-SP) e prof. Wagner Meira (UFMG).

Dora Kaufman fez uma apresentação intitulada “Representatividade e Ética no Desenvolvimento de Algoritmos de IA: Impactos na Sociedade”. Começou argumentando que uma grande ameaça às sociedades e governos do uso dessas tecnologias é aumentar a desigualdade social. Há um projeto no Congresso Nacional para um Marco Regulatório da IA. Seu ponto de vista é que o PL é inócuo e que os parlamentares não entendem do assunto. 

O maior impacto social é sobre o trabalho. Há um efeito de deslocamento de vagas. Surgem novas interfaces humano-máquina, criando instrumentos de trabalho que trabalhadores não tem capacitação e em alguns casos não é simples capacitar. Há também um efeito sobre a renda: menos oferta de trabalho, mais gente procurando, caem os salários. 

Outra questão é a desigualdade entre empresas (concentração de mercado). Para a IA, há um problema de escala. A acurácia depende de quantidade e qualidade dos dados. Poucas empresas conseguem ter estes dados. Há ainda a desigualdade entre países. A diferença dos números da China e dos EUA em relação a outros países é descomunal e está crescendo. O Brasil está muito atrasado em relação a este desenvolvimento por um lado, mas por outro nossas relações são altamente mediadas por algoritmos de IA. Faltam ecossistemas e políticas públicas, como nos países desenvolvidos.

Agora do ponto de vista ético: os três aspectos mais importantes são a explicabilidade, o viés e a privacidade.

Importante ressaltar que o modelo de deep learning tem uma complexidade que escapa nossa capacidade cognitiva e, portanto, são intrinsecamente opacos, porém o sistema de IA tem todo um processo anterior e na maioria das vezes a explicabilidade pode ser trabalhada nestes outros processos.

Com relação ao viés, também é importante comparar os sistemas automatizados com a alternativa que são as decisões tomadas por seres humanos, que também possuem muito viés e preconceitos. Segundo especialistas, controlamos apenas 20% do que nos leva a tomar decisões.

Finalizou com iniciativas para definição de princípios éticos para IA: Asilomar Principles (futureoflife.org/aí-principles), Auto regulamentação (várias tentativas, mas não tem funcionado, ela não acredita) e a regulamentação da IA, ocorrendo em vários países. Concluiu opinando que as duas grandes ameaças para o Século XXI são as mudanças climáticas e a IA.

André Ferreira de Carvalho falou das iniciativas da SBC: um grupo de trabalho sobre este tema; edição especial recente da Computação Brasil; participação junto aos juristas do Congresso.

Elogiou a fala anterior e mencionou outros problemas: toda nova tecnologia pode trazer problemas éticos. Com relação à desigualdade entre empresas/países, estamos perdendo muitos cérebros para outros países (governo e empresas). Se não resolvermos estas questões, o futuro é preocupante.

Falou então da recomendação da UNESCO sobre Ética da IA, com participação da IFIP, da qual a SBC faz parte. A ideia é que se faça uma avaliação do impacto ético e da utilização de práticas éticas na IA. É composta de alguns valores e diversos princípios.

Há iniciativas chamadas de “AI for good”, em que se aplicam as tecnologias de IA em projetos para ajudar comunidades e para o bem da sociedade em geral.

Wagner Meira fez uma apresentação intitulada “Representatividade e Ética no Desenvolvimento de Algoritmos de IA”. Segundo ele, os algoritmos fazem cada vez mais parte do nosso cotidiano e influenciam decisões, às vezes até sobrepõem decisões humanas. IA é o jargão o momento: capacidade de decisões autônomas, buscando similaridade ao comportamento “humano” (raciocínio, emoções, ações). Gera muita expectativa de até superar o comportamento humano nos mais diversos contextos.

Trouxe então os exemplos do AlphaFold (Protein Folding Problem), que resolveu um problema de décadas na biologia; do Alpha Code, que gera código-fonte a partir de especificações. Por outro lado, há exemplos de algoritmos que não fazem apenas o bem. Exemplo dos funcionários da Amazon e de entregadores que se revoltaram contra decisões algorítmicas, também os algoritmos que trabalham para a geração de desinformação.

Há um sentimento de não controlar estas questões pra não inibir a inovação, mas isso é um erro. Pergunta-se então: quais são os requisitos que os algoritmos devem satisfazer em termos de ética e valores humanos? Como que nós pesquisadores devemos trabalhar para chegar a estes requisitos? 

Outra questão: quem ou o que é responsável pelas violações? Exemplo: anúncios de emprego aparecem mais para homens que para mulheres. Culpa dos anunciantes? Do sistema que foi implementado assim? Reação do sistema à oferta/demanda percebida? Ação maliciosa? Não é algo simples.

Falou da importância da transparência, ou seja, os seres humanos devem entender os resultados gerados pelos algoritmos.

Como poderia ser uma solução para estas questões? Caracterizar e entender as violações; verificar e balancear dados de treinamento; incorporar aspectos éticos e valores humanos; avaliar continuamente as saídas. Os sistemas atuais tem que ser refeitos! 

Isso tem sido olhado de forma mais ampla por uma área de pesquisa chamada IA Responsável: times que desenvolvem sistemas confiáveis, organização que muda sua cultura, Indústria que busca certificação. Falou do caso do CIIA-Saúde (Centro de Inovação em IA).

Em suma, dados e algoritmos vieram para ficar, mas ética e valores humanos são cada vez mais fundamentais. Os sistemas atuais são insatisfatórios e terão de ser refeitos. A cada vez que buscamos melhorá-los, temos o humano reinserido no loop em outro patamar. Há oportunidades em todos os níveis e áreas, não apenas na Computação.

Nina da Hora começou sua fala dizendo que assumiu duas novas funções recentemente dentro do contexto de ética em algoritmos: na área de responsible tech da ThoughtWorks e como parte do conselho de segurança do Tik Tok Brasil. Quando recebeu o convite para este painel, estava em meio ao debate da lei sobre a IA. Ficou pensando em como no Brasil ainda não se conseguiu evoluir para além do debate de como consertar os algoritmos e como as ferramentas irão resolver as questões. 

Ela percebeu que os problemas não estão na ferramenta ou na tecnologia, mas bem antes. Então desde 2018 tem direcionado seus esforços pra entender sobre os viéses comportamentais e implícitos, pra além da Computação. Está buscando fazer esta pesquisa junto a um Departamento de Filosofia, porém acredita que a discussão obrigatoriamente envolve os Cientistas da Computação.

Fez uma chamada à responsabilidade, de sermos parte do problema, por estarmos ajudando a criar estes algoritmos.

Em seguida Dora comentou sobre a fala da Nina, ressaltando de como é fundamental a interação entre as ciências exatas e as ciências humanas. O que Nina falou tem a ver com Ética by Design, para o que é fundamental ter equipes e profissionais multidisciplinares. Fazer desde o início é muito mais fácil do que corrigir os sistemas depois de prontos. Precisamos nos esforçar para sair da “caixinha” onde fomos colocados. A segunda observação é que isso tudo é muito difícil e complexo, se fosse fácil já teria sido feito. É preciso que as instituições e governos atuem.

Passou-se então para a sessão de perguntas:

  • P: vocês acham que alguém poderia ser autorizado a fazer pesquisa de IA sobre dados humanos sem um treinamento em ética?
    R: Não. Mais sensível que isso ainda são as bases de dados/imagens que são construídas muitas vezes sem o consentimento das pessoas. O treinamento ético é o mínimo. A Ética by Design também não é suficiente, é necessário um acompanhamento contínuo. Também é preciso colocar em discussão o papel do dinheiro, comparando o que está acontecendo com os dados hoje com os desastres nas barragens em MG que ocorreram por ação deliberada das empresas de não tomarem as providências necessárias por motivos financeiros. Com os dados, também podemos caminhar para um desastre se nada for feito.
  • P: responsabilização pressupõe relação de poder. Entre a autorregulamentação (a que o Capitalismo nos vai levar) e uma utopia de um poder nacional com capacidade de enfrentar o Imperialismo Digital que vivemos, qual o caminho?
    R: tem muito a ver com a questão do lucro e do dinheiro falado anteriormente. O que precisamos fazer neste momento é mitigar os danos. E fazer este debate na área aqui no Brasil, com vistas a criar as legislações necessárias e envolvendo o judiciário, pensando em interferências nacionais e não esperando algo que venha de fora (foi feita uma longa reflexão sobre a globalização). Qualquer solução passa por transformações estruturais no país. E pela educação.
  • P: quem vai definir os parâmetros éticos num país que vive uma crise de ética?
    R: André: os padrões éticos são internacionais, então a crise nacional não impacta tanto. Nina: a crise é internacional e ainda acredito que nós devamos trabalhar a questão no Brasil ou no máximo na América Latina.

Terça-feira 02/08/2022:

Reunião com as Agências de Fomento

Às 9:00 tivemos a também habitual reunião da comunidade de Computação com representantes das agências de fomento, mediado pelo presidente da SBC, prof. Raimundo José de Araújo Macêdo e com a participação de Alexandre Guilherme Motta Sarmento, Coordenador técnico da COAPD/CNPq, Philippe Navaux da UFRGS, como representante do CA-CC/CNPq, dos professores Paulo Roberto Freire Cunha (UFPE) e Avelino Francisco Zorzo (PUCRS), representantes do CA-CC/CAPES e Nelson Simões da Silva, diretor-geral da RNP, como painelistas.

Alexandre Motta começou sua fala mencionando os editais do CNPq: lançado no dia anterior edital de bolsa de MSc e DSc na área de TICs, R$ 12 milhões, cada pesquisador pode concorrer a uma bolsa. Também recente o edital para pesquisadores que tem alunos fazendo TCC em IA como área fim. Outro será lançado para projetos abrangentes que façam ensino, pesquisa, capacitação e extensão para R$ 1 milhão por 2 anos. Outro para ICTs que trabalhem com start-ups (R$ 30 milhões, 22 projetos de em torno de R$ 1 milhão cada). Outro para pesquisa e desenvolvimento em Computação Quântica (R$ 4 milhões dividido para 4-5 projetos). Projeto da BRASCOM para capacitação de RH, bolsa para até 10 mil pessoas. Edital novo (chamado de “Makers”) para ações de divulgação de Ciência e Tecnologia (R$ 30 milhões). Este ano não teremos o Universal, mas pro ano que vem teremos, junto com o PDI-TI (até R$ 500 mil por projeto).

Este ano, a demanda do CA-CC/CNPq caiu vertiginosamente (40 bolsas, sendo que já teve 100 em outros anos). Lembrando que se contrata conforme a demanda, portanto convida-se os pesquisadores a submeterem. Já no DT, o contrário: costumava ser 40 por ano e vieram mais de 100.

Philippe Navaux falou da nova composição do CA, com a sua saída e de outros 2 membros para entrada de Jussara Almeida (UFMG), Lisandro Granville (UFRGS) e Jose Neuman (UFC). A coordenação agora é da Teresa Ludermir (UFPE).

Falou então dos editais analisados pelo comitê e se alongou um pouco sobre os critérios de julgamento de submissões para bolsas PQ e dos processos de análise de submissões em geral. Em 2021 foram 460 pedidos de PQ, 404 foram recomenda e apenas 115 foram concedidas. Uma mudança importante: se um pesquisador PQ-1 perde o prazo pra renovação pode pedir depois pra continuar de onde estava, sem ter que reiniciar em PQ-2.

Por fim, manifestou preocupação com o surgimento de redes de publicação no cenário nacional, bem como as revistas e conferências predatórias. O comitê está atento a isso e recomenda que os pesquisadores também estejam. Infelizmente está acontecendo e o comitê tem detectado.

Nelson Simões falou das ações da RNP que apoiam a comunidade científica: apoio aos grupos de pesquisa, compartilhamento de governança e promoção de programas de pesquisa, desenvolvimento e inovação. Os principais mecanismos para isso são os Comitês Técnicos, os Programas Prioritários de Informática (PPIs) e os Programa de Grupos de Trabalho (GTs).

Passou então mais detalhes dos funcionamentos dos Comitês Técnicos. Estão ativos comitês de Blockchain (2020), Saúde Digital (2020), Monitoramento de Redes (2011), Gestão de Identidade (2010) e Ciência de Dados e Inteligência Artificial (2022), que foram brevemente apresentados (objetivos e composição). Deu detalhes também sobre os PPIs, falando dos objetivos e das ações do PPI Internet Avançada e dos programas OpenRAN @Brasil-FASE 1, 6G e 5G-in-a-box. Por fim, falou também do programa de GTs, citando 5 GTs de exemplo (VoIP, RAP, V4H, FEEDBACKBOT, DEVIAS) que tiveram resultados expressivos, mencionando brevemente cada um deles. A chamada dos GTs deste ano está publicada, com vários temas de interesse (prazo meados de setembro).

Paulo Cunha e Avelino Zorzo fizeram o relato com dados da quadrienal (composição das comissões, números da área, gráficos diversos) e reflexões para o futuro, similar ao que já haviam apresentado ao Fórum CPG no dia anterior. Ressaltaram a transparência do processo e participação da comunidade. Destacaram que com o novo Qualis viu-se que a Computação publica 75% em veículos do índice restrito (anteriormente havia uma restrição artificial de apenas 50% poderiam ser do iRestrito). Destacaram também o reconhecimento oficial (há documentos) da CAPES às publicações em eventos na Computação.

Passou-se então para a sessão e perguntas:

  • P: o orçamento do CNPq hoje é menos da metade do que era em 2015. Recursos vem do FNDCT mas já contingenciados. A situação da agência parece muito preocupante (sede, sistemas).
    R: Alexandre explicou as situações da sede e dos sistemas e disse que os fundos disponíveis pra 2022 estão praticamente garantidos por leis e outros mecanismos.
  • P: na CAPES, temos que nos preocupar com os valores das bolsas. SBPC entregou aos presidenciáveis sugestão de que a presidência da CAPES seja eleita e não mais indicada. O vácuo do PNPD é gravíssimo.
    R: Avelino disse que é muito importante mesmo que todos defendam a CAPES e a Ciência. As sociedades precisam mesmo se mobilizar. Existe uma política perversa de abafar a ciência e tecnologia no Brasil. A formação de mestres e doutores caiu desde 2017 por conta desta política. Muitas FAPs já atualizaram seus valores de bolsas, sinalizando para CNPq e CAPES que isso também é necessário no nível nacional. Paulo não vê como muito possível a presidência da CAPES ser eleita, mas talvez algumas diretorias chave como avaliação e bolsas. Macedo comentou sobre a falta de planejamento: não se avalia se os instrumentos usados são eficazes. Estamos atualmente lutando pela sobrevivência destes mecanismos, como as bolsas por exemplo.
  • P: há uma armadilha criada a partir dos valores desfasados das bolsas: o desinteresse por conta do valor gerar a impressão de que não há demanda por bolsas (dos mais diversos níveis). Outro aspecto das bolsas é a falta de benefícios sociais agregados (direitos trabalhistas, segurança social). Não seria o caso de pensarmos num modelo radicalmente diferente?
    R: a discussão é bem ampla e a comunidade deveria discutir, montar, trazer e pressionar os órgãos de fomento para implementar algo que surgiu da comunidade. A SBC poderia ter um grupo que discutisse isso. É preciso começar pelos objetivos destes instrumentos e “analisar os requisitos”. Como comunidade, podemos colaborar na construção das políticas públicas, mas precisamos de um poder público aberto ao diálogo. Alexandre é bem pessimista em relação aos valores das bolsas no médio prazo, então é preciso ser criativo e usar outras formas de fomento (ex.: participação de empresas).
  • P: até que ponto a produção científica vai ser a principal direcionadora do processo de avaliação da CAPES e o quanto os demais critérios, em especial os qualitativos, são considerados?
    R: o produtivismo foi criado nas últimas décadas e nos acostumamos com isso, não vai mudar da noite pro dia. Mas já começamos nos últimos anos a mudar, estamos em transição. Veja por exemplo o documento Formação em Pós-Graduação da SBC.
  • P: como fazer para dar mais autonomia às universidades/programas, entregando o montante de dinheiro e deixando livre o valor das bolsas (ex.: ao invés de 4 bolsas de R$ 1.500 poderiam ser oferecidas 2 bolsas de R$ 3 mil)?
    R: acho que deve ter que mudar a legislação para que as agências de fomento possam fazer algo a respeito. É um caminho bem mais longo, mas pode ser trabalhado junto aos órgãos. Mas há mecanismos para fazer algo (por exemplo, complementar bolsas), o que inclusive pressiona as agência de fomento a melhorar.
  • P: como os membros do painel viveram o momento em que a comunidade protestou bastante em relação à presidência da CAPES, considerando esta situação em particular, e não surtiu efeito nenhum?
    R: a questão é mais ampla, não tem planejamento e parece que o objetivo maior é destruir as conquistas da Ciência e Tecnologia no Brasil para não deixar o país avançar. A situação é realmente triste nos 6 últimos anos. Há movimentação das sociedades sendo feitas em defesa da Ciência, em especial junto ao parlamento.

Painel: Diversidade, equidade e inclusão na Computação

Às 14:00, ocorreu um painel conjunto SEMISH e WEI sobre “Diversidade, equidade e inclusão na Computação”, com participação da profa. Mirella Moro (UFMG), do prof. Kiev Gama (UFPE) e de Carolina Sacramento Nardi (FioCruz) como painelistas. A moderação foi da profa. Maristela Holanda (UnB).

Kiev Gama fez uma apresentação intitulada “Como ser uma pessoa aliada na busca por diversidade e inclusão na computação?” Após um disclaimer sobre lugar de fala (reconhecendo seus privilégios de homem, cis, branco, hétero e de classe média — estereótipo do opressor), convocou a todos a tentar enxergar seus privilégios e a existência de grupos sub-representados. Mencionou pesquisas recentes em Engenharia de Software que menciona além dos fatores já citados (gênero, raça, etc.) também nacionalidade como fator de minorização, daí neste caso ele sendo brasileiro/sul-americano começa a se encaixar num outro perfil quando está no exterior (no sentido de que neste aspecto ele não é o opressor).

Passou a falar de sua experiência pessoal com o assunto: a partir da constatação de que anúncios dirigidos para mulheres aumentam a participação feminina, usou isso no CIn/UFPE o que trouxe várias estudantes (maioria mulheres) interessadas no tema, diretamente ou por indicação. Realizou diversos trabalhos de TCC e Mestrado na área de diversidade e inclusão. Descreveu alguns destes trabalhos.

Ao longo das pesquisas, cuidados surgiram intuitivamente: pautas identitárias precisam de alunas e alunos com lugar de fala; importância do protagonismo de estudantes nos trabalhos e apresentações; tem que se criar um ambiente de empatia e segurança na coleta de dados sensíveis (quali e quanti); atenção na composição de bancas avaliadoras.

Para além das orientações, propôs outras reflexões: reforçar postura de aprendiz; ler conteúdo não acadêmico; fomentar iniciativas para grupos subrepresentados; exercitar a empatia, conversando e escutando as pessoas destes grupospara entender melhor suas dificuldades; sinalizar que há um canal aberto; atuar nos bastidores, utilizando seus privilégios em benefício dos grupos subrepresentados.

Concluiu dizendo que, de maneira geral, nós privilegiados e estereótipos do opressor temos que ser aliados, dando espaço para os grupos subrepresentados e minorizados que precisam.

Mirella Moro fez uma apresentação intitulada “Como adicionar conceitos sobre Diversidade e Inclusão em qualquer aula de Computação”. Focou em diversidade que, conforme falado anteriormente, é sobre uma pessoa ou grupo em um determinado contexto e considerando um atributo (gênero, raça, etc.). Inclusão é dar oportunidade para que estas pessoas participem no contexto e equidade é fazê-las se sentirem bem. A fala foi baseada num artigo que foi premiado como melhor artigo do EduComp.

Relatou que fez uma pesquisa com colegas, perguntando se abordam diversidade/equidade/inclusão (DEI) em suas aulas e, caso negativo, por que não. Respostas: está fora do currículo/ementa, não tem conexão com a disciplina, não tenho tempo/conhecimento, carga extra de trabalho. A respostas fazem sentido, porém propôs as seguintes réplicas: por que outros assuntos entram sem estar no currículo (ex.: blockchain) mas DEI não? Adicionar DEI forma profissionais melhores nas diversas áreas de Computação.

O desafio então, é: quem deveria ensinar o que e quanto? A sugestão é incluir em qualquer disciplina, em toda disciplina em que o assunto possa fazer a diferença. Para isso, pode-se questionar-se como a disciplina em questão influencia em questões de DEI e incentivar discussão entre estudantes. Quanto às questões pessoais, não é necessário ser especialista. Há muito material pronto. Pode-se discutir com os colegas para construir juntos. No artigo tem muitas referências.

Carolina Sacramento fez uma apresentação intitulada “Acessibilidade na Web: um relato de experiência na teoria e na prática”. Começou falando que 45 milhões de pessoas declararam ter algum tipo de deficiência visual, auditiva, mental ou intelectual no Censo de 2010. Acessibilidade é um direito garantido pela lei 13.146/2015 (especificamente sobre a Web no Art. 63). Existem também orientações do W3C (WCAG 2.1) e do gov.br (Modelo de Acessibilidade em Governo Eletrônico – e-MAG 3.1).

Porém, opinou que há um longo caminho a ser trilhado. Em 2020 menos de 1% dos sites brasileiros são considerados acessíveis. Acessibilidade na Web é permitir que as pessoas com deficiência possam perceber, entender, navegar, interagir e contribuir para a Web. Outras pessoas (ex.: idosos, pessoas com baixo letramento, etc.) também podem se beneficiar.

Falou então da sua história com o assunto: sendo motivada por uma palestra em 2008, montou um grupo de trabalho para desenvolvimento de um portal acessível em seu trabalho. Citou desafios e aprendizados: mais difícil do que construir um portal acessível é mantê-lo no mesmo padrão de acessibilidade ao longo do tempo; importância de envolver os diferentes setores da organização; importância de trazer as pessoas com deficiência para integrar a equipe de desenvolvimento.

Finalizou mencionando seu grupo de pesquisa: nau.uniriotec.br. Finalizou recentemente o doutorado, tendo trabalhado no assunto na graduação e no mestrado.

Quarta-feira 03/08/2022:

WEI – Relatos de Experiência 4

Às 9:00 assisti a sessão Relatos de Experiência 4 do WEI, com apresentação de três artigos.

Clodis Boscarioli (UNIOESTE) apresentou o artigo “Curricularização da Extensão no Ensino de Empreendedorismo em Computação: Interdisciplinaridade e Vivência Estudantil”. A experiência ocorreu na disciplina de Formação de Empreendedores, com objetivos: aprendizagem empreendedora, ensino de empreendedorismo, orientação empreendedora e formação de competências empreendedoras. Junta-se a isso a obrigatoriedade de 10% de carga horária de extensão, porém a instituição diz que não se pode aumentar a CH do curso. Relata então a experiência da disciplina (ensino remoto), integrada ao projeto de extensão e parceria com o SEBRAE.

A educação empreendedora inclui: incorporação do empreendedorismo na educação, desenvolvimento curricular, desenvolvimento do professor, engajamento com o setor privado. Fizeram então a adequação do planos e ensino da disciplina, organizaram uma chamada aberta para problemas para criação de um banco de problemas e os alunos escolhiam quais gostariam de propor soluções e trabalhar. Os alunos tiveram que ter participação efetiva na Maratona Empreendedora (UNIOESTE, Fundação Araucária, CNPq) e no Startup Garage (SEBRAE).

Em 2020 foram 13 equipes multidisciplinares (~4 integrantes cada), 14 alunos da Computação. Foi criada a primeira startup da UNIOESTE. Em 2021, 15 equipes, 8 estudantes de Computação. A disciplina deu mais trabalho, tanto para os professores quanto para os alunos, no entanto proporcionou experiências práticas nas áreas de empreendedorismo e inovação. Notou-se a necessidade de desenvolver a educação empreendedora na graduação e na pós-graduação.

Luís Rivero (UFMA) apresentou o artigo “Quando a Teoria é Aplicada: Um Relato de Experiência da Aplicação de Metodologias de Desenvolvimento de Sistemas Computacionais dentro do PETComp-UFMA”. Relatou a experiência da prática de desenvolvimento de sistemas no PET de Ciência da Computação da UFMA com estudantes menos experientes (devido ao baixo valor da bolsa, os alunos da Computação costumam ficar apenas 1 ano e saem para estágios). São vários desafios ao se trabalhar com estes estudantes. 

O método é composto por atividades de treinamento (minicursos, tutoriais, atividades), análise (o tutor levanta os requisitos), prototipação (baixa, média ou alta fidelidade) e desenvolvimento. O acompanhamento é feito com reuniões semanais (de cada projeto). Uso do Scrum, o tutor faz o papel de PO e um dos membros da equipe é o Scrum Master. Há nas equipes designers e desenvolvedores.

Lições aprendidas: há um gargalo no levantamento de requisitos, pois fica concentrado no tutor, pois é necessário que uma pessoa com experiência fique com esta atividade; a disponibilização de cursos e tutoriais é muito importante na capacitação, os próprios estudantes em seus processos de aprendizado ajudam a atualizar os materiais; durante o desenvolvimento, é importante ter equipes eficientes e coordenadas, por meio de atividades e ferramentas de acompanhamento.

Perguntei como se resolve a questão de recebimento de recursos financeiros por parte de alguns contratantes de projetos e como isso é visto interna e externamente. O recebimento dos recursos é feito por emissão de nota fiscal por parte de um dos estudantes, que fica com os recursos em uma conta sua e por meio de um “acordo de cavalheiros” o recurso é parcialmente do estudante e uma parte é revertida ao grupo (compra de equipamentos, pagamento de viagens para eventos, etc.), mas nada é usado pelo professor. Quanto a como é visto, internamente os colegas aprovam o que é feito no PET, pois prepara os estudantes de primeiros períodos para seus projetos de extensão e pesquisa. Externamente, não recebeu nenhuma crítica da indústria, provavelmente por pegar poucos clientes, que não conseguem arcar com os custos que a indústria pede e por deixar claro que o projeto é conduzido por estudantes, sem a experiência dos profissionais do mercado.

Diego Zabot (UFBA) apresentou o artigo “De “Vale nota?” a “Jogo é prova!”: raciocínio computacional e protagonismo docente como estímulo ao protagonismo discente”. No âmbito escolar, a Computação é geralmente vista como recurso tecnológico e não como ciência, muitas vezes confundida com aulas de informática. A ideia então é aplicar o Raciocínio Computacional (RC) por meio de jogos educacionais, para que seu aspecto lúdico desperte o interesse do estudante, promovendo engajamento e protagonismo discente.

A iniciativa se encaixa num projeto de uso de RC na prática, com atividades de formação dos professores, mentoria e criação de propostas didáticas. Foram então projetados jogos como recursos educacionais encaixados em planos de ensino compostos por outras atividades didáticas. Foi realizado experimento (online por conta da pandemia) com uma turma de estudantes e uma professora de uma escola pública de Salvador, BA.

O jogo apresentava alguns aspectos de RC, ex.: estudantes perceberam que a depender do caminho escolhido no tabuleiro era possível acessar cartas de maior pontuação (raciocínio algorítmico); cada estudante trazia seus próprios conhecimentos, experiências e habilidades ao analisar um desafio/uma pergunta (decomposição) e, para negar à resposta final, agrupavam os entendimentos segundo um padrão (composição); durante este processo eles precisaram analisar as convergências nos entendimentos (reconhecimento de padrões) e realizar análises isolando outros detalhes (abstração).

O feedback dos estudantes e da professora foi muito positivo, ressaltando protagonismo discente, ampliação de repertório metodológico e intencionalidade pedagógica.

Palestra: Síndrome da Impostora: um relato pessoal

Às 11:00 fui ao Women in Information Technology (WIT) para ouvir a palestra “Síndrome da Impostora: um relato pessoal” da Karin Breitman

Falando em especial para as mulheres, Karin começou definindo a Síndrome da Impostora (SI): duvidar da sua própria competência e sentir-se uma fraude (em algum momento você será desmascarada). São vários tipos de impostoras: a perfeccionista, a sozinha, a expert, a super mulher, a naturalmente gênia. É difícil perceber quando você está entrando na armadilha da SI.

Passou então a contar sua própria história, começando por apresentar seu currículo, que é pleno de conquistas. Relatou que durante um WIT, ela estava na plateia preparando uma apresentação para fechar um projeto de pesquisa com uma empresa quando a palestrante falou que às vezes se sentia uma fraude, então ela parou o que estava fazendo, olhou pra palestrante e se identificou.

A SI é muito ruim, por uma série de impactos: você gasta muito mais tempo na preparação do que quer que seja, aumentando muito sua carga de trabalho; gera ansiedade, medo, burnout; reduz sua motivação; você realiza menos coisas; auto-sabotagem; gera um ciclo vicioso. E a vida acadêmica é plena de situações que promovem este tipo de coisa.

Para quem se reconhece nestas situações, a má notícia é que é uma condição crônica, que não vai embora não importa suas realizações, e deve ser cuidada continuamente. Então Karin compartilhou atitudes que funcionam pra ela: colocar as coisas em perspectiva, criar uma narrativa de sucesso, ter uma rede de segurança (com torcedoras, mentoras e patrocinadoras), aprender e usar técnicas de negociação (em geral durante negociações estas situações de SI aparecem) e teoria dos jogos.

Painel sobre a Educação para uma Sociedade Inclusiva e Democrática

Às 17:00 tivemos mais um painel do SECOMU, com o tema “Educação para uma Sociedade Inclusiva e Democrática”. O painel contou com a presença da professora aposentada da UFF Cristina Maria Carvalho Delou, do Coordenador de Inovação e Tecnologia da Secretaria de Educação do Município do Rio de Janeiro, Guilherme Cintra, do professor Gilberto Lacerda Santos da UnB, e da Diretora de Ensino de Computação na Educação Básica da SBC Leila Ribeiro (UFRGS), sendo moderado pela professora Claudia L. R. Motta, da UFRJ.

Cristina Delou, psicóloga e doutora em educação, fez um apanhado histórico, mencionando políticas de inclusão democrática pela educação apresentada pelo FMI aos países devedores em 1990. Em 1994, foi produzida a Declaração de Salamanca, ratificando que as escolas deveriam acomodar todas as crianças, independente de suas condições. O que aprendemos até agora? Não basta matricular as crianças nas escolas, precisa de um esforço de todos os envolvidos para que funcione: políticas públicas, gestão escolar, técnicas pedagógicas, apoio familiar, voluntários, etc. Questão para reflexão: de que forma os profissionais da Computação podem contribuir? 

O que precisamos aprender ainda? A reforma das instituições não depende apenas de questões técnicas, mas também da convicção da sociedade. Precisamos de empatia, de se colocar no lugar do outro. Precisamos trabalhar para quebrar vários tipos de barreiras (ex.: abismo social). Colocar em ação a Educação 4.0 (metodologias ativas). Se preparar para novas dificuldades trazidas por novas doenças que assolarem o planeta (ex.: a varíola dos macacos), sendo que a pandemia da COVID-19 ainda nem tenha sido completamente resolvida.

Guilherme Cintra falou do desafio da implantação em escala da Aprendizagem Criativa. Começou lembrando que os pensamentos inovadores na educação já existem há um bom tempo (ex.: Montessori, Pacheco, Paulo Freire) e também na Computação, porém o grande problema é fazer isso na escala em que é necessário.

Precisamos começar a quebrar algumas barreiras, como o medo daqueles que iniciam em Computação e Engeharia; o estereótipo do profissional de Computação ser o homem branco, a linguagem utilizada para o ensino (começar mais simples). Disponibilidade de softwares open source (para o serviço público é importante). Criação de redes de professores, etc.

Como estão fazendo no Rio: seguindo alguns princípios. Escolas como incubadoras de inovação pedagógica para a rede de ensino (vetores de transformação). Políticas de ensino integral. Aprendizagem mão na massa, adaptados para os problemas locais. Democratização da tecnologia. Aproveitar o potencial acadêmico do Rio de Janeiro na área de Exatas. Tem abordado temas como pensamento computacional, uso de programação (Scratch), circuitos elétricos, robótica, e outros.

Há muitos desafios adiante: construção de um currículo adequado a uma rede com defasagem de aprendizagem; compras públicas e manutenção de equipamentos; formação de professores em escala; como atingir um equilíbrio entre a sistematização e redução da liberdade para aprender os que se deseja?

Gilberto Santos trouxe alguns elementos para problematização e discussão, apresentando ao longo da conversa um projeto que participa na UNB.

  1. Só avançaremos para uma sociedade mais igualitária e democrática pela educação e a universidade pública, gratuita e de qualidade é fundamental;
  2. A inclusão que a universidade é capaz de realizar é um movimento de duas mãos e o acervo cultural do calouro é um componente importante;
  3. A educação básica brasileira não tem cumprido seu papel de formação integral do indivíduo e o Brasil precisa de dinâmicas permanentes de reparação de danos. O processo de preparação para a universidade restringe conhecimentos ao invés de ampliá-los;
  4. Há um ciclo vicioso a ser rompido, do qual a universidade é partícipe: a péssima qualidade da formação dos professores da educação básica. Pagamos um preço muito caro pelo ingresso tardio na escola pública, universal e de qualidade (um certo candidato à presidência que foi à reunião da SBPC);
  5. A universidade, de modo geral, não tem estratégias de acolhimento cognitivo e de reparação de danos intelectuais dos que nela ingressam;
  6. Experimentação em torno do pensamento computacional: decomposição, reconhecimento de padrões, abstração, criatividade, autonomia, comunicação e criação;
  7. Por que o pensamento computacional repara danos mais rapidamente e contribui ara a inclusão acadêmica dos calouros?
  8. O pensamento computacional deve ser inserido no Ensino Básico como conteúdo transversal, em vários anos tanto no ensino fundamental quanto do ensino médio. A base nacional curricular já prevê isso, mas quem vai ensinar? Isso não está inserido nos currículos dos cursos que formam os professores;
  9. O pensamento computacional deve ser objeto de políticas públicas em prol da ressignificação da educação em tempos de realidade líquida em que tudo que é sólido se desmancha no ar.

Leila Ribeiro tratou o tema do ponto de vista da Computação. A Computação estando em todos os lugares, deve ser incluída na formação dos alunos nas escolas.

Resgatou o processo de inclusão da Computação na BNCC (Base Nacional Comum Curricular). A SBC fez um esforço grande junto ao CNE (Conselho Nacional de Educação) para argumentar por esta inclusão, de 2015 a 2022. Incluiu a elaboração de um documento de Diretrizes de Computação na Educação Básica da SBC, que foram praticamente adotadas pelo CNE em 2021. Em fevereiro de 2022 o documento foi aprovado pelo CNE, faltando apenas a homologação do ministro.

Leila destacou as principais razões para a aprovação no CNE: a inclusão social (sem a Computação, haveria um aumento muito grande da desigualdade social); soberania nacional (a informação é o bem mais precioso que temos hoje, precisamos ter capacidade no Brasil para processar, guardar, etc. nossos dados). Então, assim como aconteceu com outras áreas no passado, parte do conhecimento da área de Computação está descendo do nível superior para os outros níveis de educação: médio, fundamental e infantil. O foco é nos fundamentos da Computação, pois tecnologias são efêmeras.

Este é um primeiro passo, mas é preciso considerar a formação dos professores, os equipamentos nas escolas, etc. Precisamos de realizar uma construção coletiva de vários setores da sociedade. A definição de políticas públicas seria muito importante para este processo. No entanto, o significado de incluir Computação na BNCC é gigante para nós como comunidade, pois a Computação foi reconhecida como Ciência no Brasil.

Abriu-se para perguntas:

  • P: como formar os professores do Ensino Básico, que não possuem formação em Computação?
    R: vai precisar de políticas públicas. A SBC tem uma série de ideias para cursos de capacitação e já se ofereceu ao governo. Será uma transição longa e precisará contar com toda a sociedade (governo, empresas, sociedade civil). O professor será um facilitador, não tendo uma formação completa em Computação, mas sabendo um pouco a frente para facilitar o aprendizado dos estudantes. Uma estrutura melhor é objetivo de longo prazo. É um caminho cheio de obstáculos e não há respostas rápidas para esta questão. Importante também contar com os estudantes, que podem também ser multiplicadores.
  • P: com relação à evasão, como lidar com este problema?
    R: é um problema relevante, no Rio dos 640 mil alunos, 25 mil evadiram durante a pandemia, conseguiu-se recuperar 20 mil. A Computação poderia ajudar com algoritmos que tente identificar probabilidade de evasão antes que aconteça, por exemplo. Tem se tentado diferentes estratégias para criar vínculo emocional dos estudantes com as escolas. Há muita literatura sobre evasão escolar, mas antes da pandemia. Agora há outros motivos que precisamos conhecer. Importante também reconhecer os games como ferramentas importantes neste contexto.
  • P: como será a inserção da Computação? Atividade extra-classe? Disciplina regular? Como fica a reestruturação dos materiais didáticos neste caso?
    R: o complemento da BNCC foi feito de forma que até o 5o ano os conceitos de Computação possam ser trabalhados sem uso de computador. Os equipamentos não são os recursos mais caros, os professores que são. Será preciso capacitar muitos professores, pois não são só os licenciados em Computação que vão ensinar Computação, mas muitos outros, que vão precisar de Computação. O documento foi feito também pensando no que se achava que era certo fazer e não o que era possível. Agora vamos ver o que será possível. Estamos muito atrasados. Há espaço para as duas soluções: como disciplina e como tema transversal.
  • P: há anseios por formas mais rápidas de aprendizado. Há uma influência da Computação/tecnologia nisso. Como a mesa vê esta questão?
    R: com o aumento da expectativa de vida e a rapidez das mudanças, é esperado que tenhamos que reconfigurar o sistema educacional para aprendermos ao longo de toda a vida para mudar de carreira. Não significa que a Educação Básica vai mudar, mas que ele deveria ensinar as pessoas a aprender (meta-cognição). Sim, teremos que mudar e a Computação é importante nesta mudança. A escola é um pacto social. Mudá-la para que se adeque aos novos tempos é uma tarefa de mudar este pacto.

Por fim, Daltro Nunes (UFRGS) recomendou que todos vejam o documento complementar sobre Computação da BNCC para ver a definição do Pensamento Computacional e os demais conceitos de Computação ali abordados.

Quinta-feira 04/08/2022:

Governo Digital para os cidadãos: o caso da Secretaria de Fazenda de Niterói

Às 11:00 fui ao Workshop de Computação Aplicada em Governo Eletrônico (WCGE) para assistir a palestra “Governo Digital para os cidadãos: o caso da Secretaria de Fazenda de Niterói”, proferida por Marilia Sorrini Peres Ortiz e Luiz Otavio Ribeiro Monteiro Junior da Secretaria da Fazenda da Prefeitura de Niterói.

Marilia começou contando sua história na prefeitura de Niterói, com transparência, modernização de processos, planejamento e orçamento desde 2014, até ser convidada para ser Secretária da Fazenda do município em 2020. Quando entrou, assumiu o desafio de fazer a secretaria mais participativa, transparente e ágil, porém encontrando resistência a mudanças na equipe da secretaria. Mencionou algumas iniciativas inovadoras, como o EducaFisco (vídeos educativos sobre os procedimentos da secretaria) e o Banco de Linguagem Simples (um glossário sobre os principais termos).

Relatou também sobre os esforços de simplificação, modernização e digitalização dos atendimentos feitos pela secretaria (que fez mais de 170 mil atendimentos em 2019), com avaliação muito positiva da população. Em 2 anos, reduziu o número de atendimentos presenciais em 70% por conta da migração para o atendimento online. A redução coincide com a pandemia, porém mesmo com o retorno ao presencial os números continuam reduzidos.

Por fim, fez reflexões sobre a cultura burocrática e a cultura da conformidade que há no serviço público. Ao trabalhar com governo digital, o mais desafiador não é a tecnologia, mas reformar a estrutura, incluindo legislações. Por exemplo, numa outra secretaria há 40 decretos que tratam de licenciamento de obras. Não adianta digitalizar este processo sem mudar isso antes. Mencionou alguns casos práticos: uso de Big Data para emissão de guia de ITBI; Power BI para visualização dos dados da secretaria; simplificação do processo de licenciamento de obras. Governo digital deve ser ágil e ter o foco no cidadão para promoção da humanização dos processos.

Abriu-se para perguntas:

  • P: como operacionalizar isso tudo?
    R: por meio de benchmarks: há diversas boas ideias sendo implementadas em outros lugares e que podem ser usadas e adaptadas para o seu contexto. Buscam essas informações e sempre que descobrem alguma ideia assim, querem conhecer. Importância de uma equipe qualificada também;
  • P: como fazer a gestão do tempo com tantas coisas a fazer? E como trabalhar a resistência à mudanças?
    R: com planejamento e estabelecimento de prioridades, é feito um acompanhamento semanal para definir o que é mais prioritário naquele momento. Quanto às resistências, tem que trabalhar junto e dar o tempo às pessoas também;
  • P: como é a relação com a comunidade científica, em especial no acesso a dados, muitas vezes sigilosos?
    R: a relação é excelente. Por exemplo, há um programa de R$ 25 milhões de parceria com a UFF com resultados bem interessantes. Há muitas outras iniciativas que envolvem a comunidade científica. Temos que pensar na universidade como parceira na elaboração de uma estratégia para o desenvolvimento econômico a partir da inovação tecnológica.

Governança da Internet e o papel do CGI.br

Às 14:00, fui ao COMPUTEC assistir à palestra “Governança da Internet e o papel do CGI.br” de Tanara Lauschner (CGI.br). Tanara começou apresentando a composição do CGI.br, com 9 representantes indicados pelo governo, 4 do setor privado, 4 do setor sem fins lucrativo, 3 da comunidade acadêmica e 1 de notório saber. Explicou que é um conselho, sem personalidade jurídica, que estabelece diretrizes para registro de nomes de domínio, alocação de IPs e administração do ccTLD (country code top-level domain) “.br”.

O braço operacional do CGI.br é o NIC.br, criado em 2005. É uma associação sem fins lucrativos, atuando por meio do registro.br (domínios), ceptro.br (formação, infraestrutura, pontos de troca de tráfego – PTTs), cetic.br (estatísticas da Internet), cert.br (segurança), e ceweb.br (pesquisa, projetos e padrões, trabalhando junto do W3C).

O CGI.br tem como uma de suas características principais o multissetorialismo, num modelo de governança da Internet democrático, pluriparticipativo e colaborativo, trabalhando por consenso de todos os setores envolvidos.

Tanara passou então a falar dos eventos e programas organizados pelo CGI.br, como o Fórum da Internet do Brasil, o programa Youth (treinamento de governança na Internet para jovens), Escola de Governança da Internet no Brasil, Seminário de Proteção à Privacidade e aos Dados Pessoais, Semana da Infraestrutura da Internet no Brasil. Falou também da atuação internacional do CGI.br, acompanhando o que acontece nos eventos internacionais que definem os rumos da Internet em nível global (ICANN, IETF, LACNIC, IGF).

O trabalho do CGI.br que dialoga mais com a SBC são so GTs FAPESP (que lança os editais de apoio), Gênero (questões específicas de gênero na governança da Internet), Fórum (realiza o Fórum da Internet no Brasil), Eventos (que avalia as propostas de apoio aos eventos, por exemplo o CSBC) e IA (governança de IA, observatório de regulamentações e publicações de IA no Brasil).

Inovação aberta na RNP

Ainda no COMPUTEC, às 14:30 Lisandro Zambenedetti Granville (RNP) apresentou a palestra “Inovação aberta na RNP”. Começou falando dos propósitos da RNP, de impulsionar os pilares de inovação, ciência e educação, promover o desenvolvimento tecnológico e apoiar a pesquisa de novos protocolos, serviços e aplicações em TICs. Em seu contrato de gestão há obrigação de investimentos em PD&I e tem se dedicado à P&D em TICs desde 2002 (PD&I desde 2020).

Passou a falar então sobre o programa de Grupo de Trabalho: um grupo de pessoas — originalmente professores, bolsistas de IC, estudantes de mestrado e doutorado — que iriam atacar um determinado problema. Hoje os GTs também tem a presença de start-ups em sua formação, sugerindo que os pesquisadores pensem nestas questões de inovação desde o início. Os GTs tem um coordenador acadêmico, que deve indicar um (ou mais) líder e assistente de inovação e assistentes de desenvolvimento. As start-ups fazem parte de uma estratégia de se ter o serviço mantido e escalável.

Os GTs passam por um funil de inovação (ciclo de vida) composto por chamada pública, protótipo, piloto, pré-produção e produção. Ao final, o objetivo é ter um novo serviço oferecido pela RNP aos seus clientes. A Fase 1 é a criação de um MVP, a Fase 2 é a evolução do MVP e oferta. Em geral cada fase dura 1 ano, mas isso é ajustável. Lisandro citou algumas start-ups oriundas do programa de GT.

Concluiu dizendo que há uma chamada de edital aberta para o programa de GTs, com R$ 132 mil em RH por ano e R$ 25 mil em infra para cada GT. A data limite é 25/09.

Painel: Futuro dos Profissionais de TI

Na sequência, ainda no COMPUTEC, foi realizado às 15:00 o painel “Futuro dos Profissionais de TI”, com a participação de três painelistas: Ruben Delgado (Softex), Pedro Gomes (CSP Tech) e Jair Cavalcanti Leite (UFRN). A moderação foi feita pela Michelle Wangham (RNP/UNIVALI).

Ruben Delgado falou um pouco da Softex, que cuida de toda exportação de software e fomenta start-ups no Brasil. Sobre o tema, disse que podemos aprender muito com o que aconteceu no passado. O mercado aquecido, complica não só para a universidade, mas também as empresas. Disse que temos que acabar com a “futebolização” do Brasil (criar estrelas para exportação). Precisamos de ter “times” de destaque mundial gerando riqueza para o Brasil. Mencionou casos de sucesso como o sistema bancário e as urnas eletrônicas, porém não fizemos riqueza com isso, não podemos continuar repetindo este erro.

Se o Brasil (e o mundo) precisa de programadores na base da pirâmide, precisamos “cuspir” programadores, formá-los rapidamente para esta base. Mas nossa área precisa também de empreendedores. Se dependesse dele, daria Empreendedorismo no primeiro período. É fundamental pros dias de hoje. Importante também sermos agentes de mudança e ensinar os estudantes a se adaptarem, pois as tecnologias mudam muito rápido. Evidentemente só existe uma única saída para o Brasil: a Educação.

Pedro Gomes começou ilustrando a importância da tecnologia comparando as marcas mais valiosas do mundo em 2000 e em 2021. Ilustrou outras mudanças trazidas pela transformação digital. Falou também da importância do propósito, além do dinheiro, na manutenção das pessoas nas empresas. 

Na questão da transformação digital nas empresas, ressaltou a importância do foco em pessoas e, neste contexto, falou um pouco sobre soft x hard skills, indicando habilidades como comunicação, criatividade, liderança, empatia, resiliência, etc. como fundamentais hoje em dia.

Jair Leite começou refletindo sobre vida, passado e futuro, revisitando sua trajetória no passado e dizendo que falar sobre futuro é muito difícil. Hoje temos uma transformação muito acelerada por tecnologias habilitadoras (como IA, nuvem, IoT, big data, streaming, etc.), outros fatores de aceleração como a pandemia e o grande aumento nos investimentos em TI (devido ao comportamento emergente dos grandes investidores). É preciso estar atento a estas questões.

Trouxe dados da Brasscom que indicam um crescimento exponencial da área de TI, o que corrobora a opinião de Ruben sobre “cuspir” profissionais para a base, porém é preciso ter cuidado com esta formação. Um relatório da CESAR School também indica sobre a importância de se formar mais técnicos e que o ensino precisa se adaptar a isso (currículos atuais não atendem). 

Então focou nessa questão de formação, questionando: qual a formação adequada? Mencionou os referenciais de formação e os referenciais para competências atitudinais (softskills) da SBC. Há também currículos de referência da Brasscom. Acrescentou que além de hard e softskills, o profissional precisa de um mindset ampliado (pensamento computacional, de design, de engenharia, sistêmico) e inserido em aspectos sociais, culturais, de sustentabilidade e ética. Se referindo à fala anterior, disse que acrescentaria empreendorismo também nesta lista.

Em seguida, ressaltou também a importância da qualidade de processos e produtos, mencionando a norma ISO/IEC 25010. A corrida por colocar produtos no mercado de forma acelerada está negligenciando a qualidade. Outra questão importante é o design, ainda falta esta visão para software (como a arquitetura é para a engenharia). Citou o Design Thinking como inspiração.

Finalizou com as seguintes conclusões: há demandas por profissionais bem qualificados; há espaço para profissionais com formações complementares e em nível médio e superior; a formação precisa ser permanente; a visão de futuro precisa ser uma visão de médio e longo prazo. 

E na sessão de perguntas:

  • P: qual seria a solução agora para lidar com a “futebolização” do mercado de TI no Brasil?
    R: Ruben acha que não há competição com o dinheiro, portanto a solução passa por rápida formação (“cuspir” profissionais) e também pelo empreendedorismo (formação de times locais). No entanto, a formação deve contemplar as softskills e aprender a aprender, por conta das mudanças nas tecnologias. Pedro acha que o Brasil nunca vai conseguir competir economicamente com as grandes potências, mas poderá competir culturalmente, de modo que as empresas podem atrair os talentos por outros aspectos que não apenas o dinheiro (mantendo, claro, remuneração decente).
  • P: as carreiras acadêmicas e de mercado são muitos distantes ou se podem andar juntas?
    R: certamente podem andar juntas, se estão andando juntas é outra questão. Os acadêmicos costumam ser muitos fechados e só conversando com seus pares. Mas existem muitos orientadores de Mestrado e Doutorado que ficam antenados nas questões de mercado.
  • P: qual seria a estratégia para a rápida formação tecnológica com empreendedorismo?
    R: o “cuspir” profissionais é apenas para a formação tecnológica (base de pirâmide), o empreendedorismo seria uma formação mais completa.